93 - cheiro a terra molhada
Um edifício no centro de Lisboa (zona de Benfica, próximo do Fonte Nova), um arranha-céus que não cabe dentro da fotografia, um murro no estômago dos verdadeiros agricultores.
Não me importaria se os senhores da confederação se limitassem a gozar o edifício, o ar condicionado, as cadeiras de pele (pele de animais que, provavelmente, alguns deles nunca viram vivos) e tal.
Importo-me, indigno-me, pois, exigem [ao Estado, a todos nós, portanto] subsídios e mordomias e não me parece que seja para benefício dos verdadeiros agricultores, talvez necessitem de construir mais um arranha-céus.
9 Comments:
Cheiro a relva acabada de cortar?
Não. Cheiro a terra, mesmo. Fertilizada com estrume feito de mato, ervas e restos de comida acontecida. Forquilhado e empilhado até «arder». Transportado ensacado por carrinhos de mão de ferro empurrados por músculos de criança (hoje adulto à força, escritor de sentimentos).
adulto à força?
isso é capaz de ser um mau presságio do homem que lhe empresta o corpo de adulto...
escritor de sentimentos?
escritor, escritor mesmo? daqueles que juntam as letrinhas? e quais são as obras?
Querida, não anónima, desculpe, não anonima, o seu pertinente comentário fez-me meditar:
O que será um adulto à força?
O que será um escritor?
Adulto à força, talvez seja alguém que conseguiu manter viva a criança que foi e apesar disso forçar-se a ser adulto. Criança no sentido de pureza não de criancices. Adulto no sentido de ser responsável mas gostar mais de ver a lua reflectida no mar que a final do europeu de futebol.
Escritor, talvez seja alguém que junta palavras. Gosto de pensar-me como um pastor de palavras. Pastorear é algo de muito literário, António José Saraiva, falava-nos das «pastorelas»; Alves Redol do «guardador de sonhos»; Pedro Ayres Magalhães do «pastor».
Enfim a imodéstia tem limites. A obra, a minha obra está espalhada na «blogosfera» e em papel de jornais e revistas. Nunca ganhei um cêntimo com nada do que escrevi, ao contrário de outros (outras) que para utilizar uma expressão de José Régio: «vão a Paris mas não vêem um palmo à frente do nariz».
Para terminar, sabe qual é piada de responder a comentários de «não anonima» é saber que não terá coragem de dizer eu sou fulano tal ou fulana tal e tu és um pretencioso e morra o Dantas, pim (podem, também, insultar-me por «e-mail»).
Ora, ora!!!
Consegui irritá-lo??
Mas a qual? ao adulto ou à criança?
Sobre a questão da coragem?? Encontra a resposta na pertinência do meu comentário.
Mais do que a (inferior) coragem de digitar um nome, tive capacidade para pô-lo a meditar. Para pô-lo a constatar a finitude da imodéstia. Uma parte da finalidade foi, portanto, cumprida.
Lamento, porém, não ter logrado conduzi-lo à culminante conclusão que esperava e, no caso, se impunha. Talvez, quem sabe, com algum treino litérário mais, possa ainda consegui-lo!!!
Pode sempre experimentar outra provocação...
Vá lá, esforce-se um pouco mais!! Eu sei que é capaz de muito mais e melhor.
Quem sabe, eu não ganho a tal coragem de que fala, que me falta, e perde de vez a piada de responder aos meus comentários...
Conhece mais nobre coragem do que a intelectual? O franco e aberto debate de opiniões, que valem por si só, independentemente da identidade de quem as subscreve?
O que teme? Que a pertinência (referida por si, porque, cá, eu aprendi, desde muito miúda, a valorizar e cultivar a modéstia)dos meus comentários, e suas consequentes reflexões, sejam ensombradas pela falta "de um qualquer nome" digitado?
Pode sugerir-me um que "eu" adoptá-lo-ei no instante seguinte. Verá que a mais valia prática é exactamente a mesma.
Em tempos, e a propósito dum assunto absolutamente díspar deste, deixei este pensamento no blog dum amigo “Não há nada tão estúpido como a inteligência orgulhosa de si mesma”
O comentário que acompanhava este pensamento valeu-me, dum outro comentador cujas opiniões muito aprecio, o seguinte «Acredite ou não, os adjectivos elogiosos que dirigi aos seus comentários são genuinos. Até porque você discute os assuntos. Não discute a pessoa do arguente.»
Hoje, diferentemente daquele dia e estranhamente p'ra mim, porque não vejo qualquer razão válida para que assim seja, vejo-me a opinar e a discutir pessoas - você.
Como vê, se há coisas que não conhecem finitude são, entre outras, a capacidade intelectual.
Einstein dizia:
«Só conheço duas coisas infinitas: a estupidez humana e o universo e sobre a segunda não tenho a certeza.»
Discordo de Einstein.
De resto, não sou a única.
Nunca fui adepta de aceitar o que os outros dizem só porque "eles", elites pensantes, ou ditas como tal, o dizem.
No caso, da estupidez, e no meu caso, lamento infinitamente a finitude da minha estupidez. Acalento o sonho de, qualquer dia, ser imensa e estupidamente qualquer coisa!!!
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